Tendências do comércio internacional de bens (abril-junho de 2023)



A Secretaria-Geral da ALADI elabora indicadores que preveem o comportamento do comércio intrarregional e das exportações e importações de seus países-membros de e para o resto do mundo, com o propósito de facilitar a tomada de decisões dos agentes econômicos.

Principais variáveis que repercutem no andamento do comércio internacional dos países-membros da ALADI

A produção de bens e serviços de um país —e de seus principais parceiros comerciais—, os preços internacionais dos produtos básicos e a evolução dos preços internos e das taxas de câmbio são algumas das variáveis que, no curto prazo, condicionam a oferta e a demanda de bens que os países-membros da ALADI comercializam entre si e com o resto do mundo. Por esse motivo, revisa-se o comportamento recente das variáveis ou fatores mencionados.

  • Atividade econômica nos países-membros da ALADI

A atividade econômica mundial continua mostrando sinais de desaceleração. O FMI, em sua última atualização, prevê que a taxa de crescimento global será de 3% em 2023, menor do que em 2022 (3,5%) e mais distante das médias históricas (3,8% no período de 2000-2019).

A desaceleração econômica mundial está tendo impacto diferente em cada região do mundo. Nas economias avançadas, por exemplo, nos Estados Unidos, a atividade econômica continuou mostrando sinais de fortaleza durante o primeiro semestre deste ano, apesar dos sucessivos aumentos nas taxas de juro realizados pela Reserva Federal. Isto levou a uma correção para cima nas projeções de crescimento da economia estadunidense feitas pelo FMI e por diversos analistas. Entretanto, nas economias emergentes, a desaceleração econômica da China no primeiro semestre do ano foi maior do que o esperado, forçando uma correção para baixo das projeções de crescimento econômico chinês para este ano. Essa situação despertou preocupação em todo o mundo, devido ao impacto que um ritmo mais lento de crescimento da economia chinesa teria sobre a economia mundial e, em particular, sobre os preços e as quantidades de matérias-primas comercializadas em escala internacional.

Condições globais de crédito mais restritas, preços internacionais mais baixos e crescimento mais lento nas economias dos principais parceiros comerciais exacerbam os problemas econômicos internos, levando a uma desaceleração no ritmo de crescimento nos países da América Latina, e da ALADI em particular. De acordo com o FMI, as economias da América Latina e Caribe aumentaram 4,1% em 2022 e, neste ano, terão crescimento mais lento, chegando a 2,3%.

Na mesma linha, a região ALADI, que aumentou 3,9% em 2022, crescerá mais lentamente em 2023, segundo previsões de organizações internacionais e de analistas econômicos e financeiros consultados por diversos bancos centrais dos países-membros. Nesse sentido, pesquisas realizadas por bancos centrais —de países que representam 85% do PIB total da região ALADI— indicam que, em setembro, os entrevistados esperavam que a região ALADI crescesse 1,5% em 2023, ou seja, menos da metade do que em 2022.

O gráfico 1 mostra como os entrevistados pelos bancos centrais têm variado suas expectativas de crescimento para 2023 e como isso afeta a taxa de crescimento esperada para a região ALADI. Nesse sentido, embora a taxa de crescimento esperada para 2023 (1,5%) seja notoriamente menor do que a de 2022 (3,9%), nos últimos meses as expectativas melhoraram, devido ao fato de os analistas consultados pelos bancos centrais terem corrigido para cima suas estimativas de crescimento para as economias do Brasil e do México, que representam parte significativa do PIB da região, em linha com as projeções feitas pelo FMI. Porém, uma análise do que acontece no resto dos países —onde as expectativas de crescimento se deterioraram ou permanecem estáveis em relação a dezembro de 2022— sugere que, em 2023, alguns países poderiam sofrer uma desaceleração do crescimento mais acentuada do que o previsto e, inclusive, entrar em recessão.

  • Evolução dos preços internacionais das matérias-primas

No segundo trimestre deste ano, os preços internacionais das matérias-primas caíram 32,5% em termos reais, em comparação com o mesmo trimestre de 2022. A diminuição nos preços das matérias-primas é generalizada; os preços do gás natural, fertilizantes e petróleo registraram as maiores quedas.

Tabela 1. Taxa de variação real dos preços internacionais de matérias-primas selecionadas (em %)


Média
Abr.-jun./2023-
Abr.-jun./2022
Média
Abr.-jun./2023-
Jan.-mar./2023
Média
Abr.-jun./2023-
Out.-dez./2022
Total-32,5-9,4-18,4
Alimentos e bebidas-15,6-2,00,4
Produtos agrícolas-16,8-2,0-0,3
Metais básicos-17,0-10,75,0
Metais preciosos – 0,4 3,1 9,3
Fertilizantes-43,9-26,4-40,2
Combustíveis-45,7-14,7-33,5
–Petróleo-32,4-5,1-14,7
–Gás natural-65,0-32,1-62,0

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Fonte: Secretaria-Geral da ALADI com base em dados do Fundo Monetário Internacional e Bureau of Labour Statistics.
  • Evolução das taxas de câmbio

Nos mercados de câmbio, o aumento das taxas de juro nos Estados Unidos e na Europa, e sua diminuição na China, é um dos fatores que explica os movimentos das taxas de câmbio. No trimestre abril-junho de 2023, em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, o euro se valorizou 2,2% em relação ao dólar estadunidense, enquanto a moeda chinesa se desvalorizou 6%.

Como ilustrado na tabela 2, o comportamento dos países da ALADI foi heterogêneo e nem sempre relacionado ao registrado pelas principais moedas. Essa situação ocorreu, em alguns casos, por conta da impossibilidade de operar com a taxa de câmbio (Equador e Panamá); em outros, devido a medidas de política monetária destinadas a conter a inflação ou, ainda, pela entrada e saída de capitais, como consequência da diferença de taxa de juros. A esse respeito, enquanto as moedas do México, Uruguai, Chile e Peru se valorizaram em relação ao dólar no período de abril-junho de 2023 em comparação com abril-junho de 2022, no último trimestre a tendência de valorização foi generalizada, e abrangeu sete países-membros da ALADI.

Tabela 2. Variação das taxas de câmbio da moeda nacional em relação ao dólar (em %)

País ou região Média
Abr.-jun./2023-
Abr.-jun./2022
Média
Abr.-jun./2023-
Jan.-mar./2023
Média
Abr.-jun./2023-
Out.-dez./2022
Argentina96,720,342,7
Bolívia0,00,00,0
Brasil0,9-4,6-5,8
Chile-4,8-1,3-12,5
Colômbia13,1-7,1-8,1
Cuba 0,0 0,0 0,0
México-11,7-5,2-10,1
Paraguai5,2-1,00,4
Peru-1,1-3,0-4,9
Uruguai-4,9-1,4-3,2
Venezuela433,813,9137,9
China6,02,5-1,4
Zona Euro-2,2-1,4-6,2
Fonte: Secretaria-Geral da ALADI com base em dados do Banco Central de Chile.

No curto prazo, a valorização das taxas de câmbio tornará os produtos da região menos competitivos, se não forem compensados por movimentos nos preços internacionais e domésticos. Nesse sentido, a desaceleração da economia chinesa e as dificuldades no setor da construção podem afetar negativamente os preços e a demanda de algumas matérias-primas de origem mineral da região ALADI.

Por sua vez, no caso do comércio intrarregional, as economias que contam com esquemas de taxas de câmbio menos flexíveis ou níveis de inflação mais altos terão mais dificuldades para concorrer, em termos de preços, no mercado regional.

  • Comportamento dos preços ao consumidor

Nos últimos doze meses, finalizados em junho de 2023, as medidas tomadas para reduzir a inflação nas principais economias do mundo levaram a uma desaceleração na demanda de bens. Isso, somado a outros fatores, levou à redução dos preços das matérias-primas e a uma desaceleração no ritmo de crescimento dos preços nos Estados Unidos e, em menor escala, na Zona Euro.

No caso dos países-membros da ALADI, como mostra a tabela 3, o comportamento da inflação, medida pela variação dos preços ao consumidor, foi muito heterogêneo. O crescimento dos preços ao consumidor diminuiu na maioria dos países, menos na Argentina, Cuba e Venezuela.

Tabela 3. Variação anual dos preços ao consumidor (em %)

País ou região Até junho 2023 Até dezembro 2023 Até junho 2022
Argentina115,694,864,0
Bolívia2,73,11,8
Brasil3,2 5,811,9
Chile7,612,812,5
Colômbia12,113,19,7
Cuba45,539,128,9
Equador1,73,74,2
México5,17,88,0
Panamá-0,62,05,1
Paraguai4,28,111,5
Peru6,58,58,8
Uruguai6,08,39,3
Venezuela404,4234,1157,2
ALADI*5,17,810,0
(*) Não inclui nem Argentina nem Venezuela. Fonte: Secretaria-Geral da ALADI com base em dados de organismos oficiais dos países-membros.

Exportações dos países-membros da ALADI

O Indicador oportuno de exportações totais de bens da ALADI, que mede a evolução das vendas em dólares de bens de seus treze países-membros para o mundo, diminuiu 3,7% no trimestre abril-junho de 2023, em comparação com o mesmo trimestre de 2022.

Em termos sazonalizados —isto é, sem levar em conta as oscilações no comportamento do indicador associadas a movimentos periódicos ou sazonais— no trimestre abril-junho de 2023, registrou queda de um 1% no montante exportado de bens dos países-membros da ALADI para o mundo, se comparado ao trimestre janeiro-março de 2023.

Importações dos países-membros da ALADI

Por sua vez, o Indicador oportuno de importações totais de bens da ALADI, que mostra a evolução das compras de bens que realizam os países-membros da ALADI para o mundo, caiu 8,2% no segundo trimestre de 2023, em relação ao mesmo período de 2022.

Analisando o comportamento do indicador no segundo trimestre do ano em relação ao primeiro trimestre, eliminando os fatores sazonais que distorcem a comparação, observa-se que as compras no exterior aumentaram 0,6% no trimestre.

Comércio intrarregional

Por fim, o Indicador oportuno de comércio intrarregional da ALADI aumentou apenas 0,6% no segundo trimestre de 2023, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Ademais, a média do valor comercializado pelos países-membros da ALADI durante o segundo trimestre foi 2,7% superior à média do valor comercializado no primeiro trimestre de 2023, sem considerar fatores sazonalizados.

Em conclusão, todos os indicadores oportunos de fluxos de comércio desaceleraram seu ritmo de crescimento no primeiro semestre de 2023.


Dados de gráficas e tabelas

Gráfica 1. Taxa de crescimento esperada do PIB para 2023
Gráfica 2. Índice de preços internacionais das matérias-primas (Expressos em termos reais. Base 2017= 100, médias trimestrais)
Gráfica 3. Inflação interanual (%)
Gráfica 4. Indicador oportuno de exportações totais – ALADI
Gráfica 5. Indicador oportuno de importações totais – ALADI
Gráfica 6. Indicador oportuno de comércio intrarregional – ALADI
Tabela 1. Taxa de variação real dos preços internacionais de matérias-primas selecionadas (em %)
Tabela 2. Variação das taxas de câmbio da moeda nacional em relação ao dólar (em %)
Tabela 3. Variação anual dos preços ao consumidor (em %)

Metodologia e outros documentos