Tendências do Comércio Internacional de Bens (janeiro-março de 2023)

Último boletim publicado com informações de março de 2023



A Secretaria-Geral da ALADI elabora indicadores que preveem o comportamento do comércio intrarregional e das exportações e importações de seus países-membros de e para o resto do mundo, com o propósito de facilitar a tomada de decisões dos agentes econômicos..

Principais variáveis que repercutem no andamento do comércio internacional dos países-membros da ALADI

A produção de bens e serviços de um país —e de seus principais parceiros comerciais—, os preços internacionais dos produtos básicos e a evolução dos preços internos e das taxas de câmbio são algumas das variáveis que, no curto prazo, condicionam a oferta e a demanda de bens que os países-membros da ALADI comercializam entre si e com o resto do mundo. Por esse motivo, revisa-se o comportamento recente das variáveis ou fatores mencionados.

  • Atividade econômica nos países-membros da ALADI

O Fundo Monetário Internacional atualizou a sua análise sobre a evolução da economia mundial em julho de 2023 e considera que as perspetivas para a economia mundial melhoraram ligeiramente face a outubro do ano passado. No entanto, a agência mantém a estimativa de que a economia mundial desacelere seu crescimento, que passaria de 3,5% em 2022 para 3,0% em 2023. O menor ritmo de crescimento da economia mundial neste ano será explicado principalmente pelo baixo crescimento da das economias que compõem a Zona Euro (0,9% em 2023) e o menor crescimento da economia dos Estados Unidos (1,8%)

Nestas economias, o impacto dos aumentos dos preços internacionais dos produtos alimentares e energéticos, das taxas de juro, constituem alguns dos factores que explicam o abrandamento do nível de atividade econômica.

Ao contrário do que acontece com as economias avançadas, as economias dos países emergentes como um todo manteriam seu ritmo de crescimento (4,0% em 2023). A realidade das economias emergentes é muito heterogênea. Assim, enquanto as economias da China e da Índia serão os grandes motores do crescimento na região asiática e no mundo, com taxas de crescimento estimadas em 5,2% e 6,1%, respectivamente, para este ano; nas economias da América Latina e do Caribe, a taxa de crescimento cairá de 3,9% em 2022 para 1,9% em 2023.

  • Evolução dos preços internacionais das matérias-primas

No primeiro trimestre deste ano, os preços internacionais das matérias-primas recuaram 10,1% em termos reais, em relação ao mesmo trimestre de 2022. A queda dos preços internacionais foi puxada pela redução nos preços de combustíveis e fertilizantes

Segundo o FMI, a queda dos preços das commodities vai continuar neste ano e no próximo. O menor ritmo de crescimento da economia mundial e o aumento das taxas de juros fariam com que, em 2023, o preço dos combustíveis registrasse uma queda de 20,7% em relação aos níveis de 2022, enquanto para o restante das matérias-primas a queda seria 4,8%. Em 2024, a queda dos preços seria amortecida, atingindo 4,8% e 1,4%, respectivamente.

Tabela 1. Taxa de variação real dos preços internacionais de matérias-primas selecionadas (em %)


Média 
Jan-mar./2023-
Out-dez./2022
Média 
Jan-mar./2023-
Jan-mar./2022
Total-9.8-10,1
Alimentos e bebidas2,4-10,8
Produtos agrícolas1,7-12,1
Metais básicos17,5-12,1
Metais preciosos 17,5 -2,4
Adubo 18,7-18,5
Combustíveis-22,0-30,6
–Petróleo -10,1-17,9
–Gás natural-44,1-49,0

.
Fonte: Secretaria-Geral da ALADI com base em dados do Fundo Monetário Internacional e Bureau of Labour Statistics.

Essa redução tem um efeito contraposto nos países da ALADI: por um lado, ela diminui o ingresso de divisas provenientes de exportações dos países produtores e exportadores de alimentos e combustíveis; pelo outro, mitiga a saída de divisas dos países que são fortes importadores deste tipo de bens.

  • Evolução das taxas de câmbio

No trimestre janeiro-março de 2023, em relação ao mesmo período do ano anterior, as moedas da China e da Zona do Euro sofreram desvalorização de 7,8% e 4,8%, respectivamente, em relação ao dólar norte-americano. Essa situação inverte-se se a comparação for feita com relação ao trimestre de outubro a dezembro de 2022.

Com relação aos países da ALADI, como pode ser verificado na tabela 2, o comportamento é heterogêneo e nem sempre relacionado ao registrado pelas principais moedas devido à ausência de possibilidades de operar na taxa de câmbio, em alguns casos, a decisão de desacelerar a taxa de câmbio como forma de conter a inflação interna, bem como as entradas e saídas de capitais derivadas do diferencial de juros.

Tabela 2. Variação das taxas de câmbio da moeda nacional em relação ao dólar (em %)

País ou regiãoMédia
Jan-mar./2023-
Out-dez./2022
Média
Jan-mar./2023-
Jan-mar./2022
Argentina18,680,6
Bolívia0,00,0
Brasil-1,3-0,9
Chile-11,30,3
Colômbia -1,0 21,7
Cuba0,00,0
México -5,1 -9,0
Paraguai1,44,5
Peru-1,90,4
Uruguai-1,9-9,5
Venezuela108,8405,4
China-3,87,8
Zona Euro-4,94,8
Fonte: Secretaria-Geral da ALADI com base em dados do Banco Central de Chile.

No curto prazo, se a variação da taxa de câmbio não acompanhar a variação dos preços internos menos a inflação dos principais parceiros comerciais, observar-se-á uma perda de competitividade nos produtos e serviços que a região exporta, num momento em que também há um ajuste para baixo nos preços internacionais dos produtos.

  • Comportamento dos preços ao consumidor

Nos últimos doze meses terminados em março de 2023, pode-se constatar que na maioria dos países do mundo a inflação começou a diminuir, como resultado da queda dos preços de alimentos e combustíveis em todo o mundo, mas também, como resultado das políticas adotadas pelas autoridades monetárias para esse fim. Não obstante, na maioria dos casos a desaceleração da inflação é gradual e, nas principais economias do mundo, os valores estão longe das metas estabelecidas.

No caso dos países membros da ALADI, conforme pode ser observado na tabela 3, o comportamento da inflação medida pela variação dos preços ao consumidor foi bastante heterogêneo.

Tabela 3. Variação anual dos preços ao consumidor (em %)

País ou região Março 2022 Dezembro 2022 Março 2023
Argentina55,194,8104,3
Bolivía0,83,12,5
Brasil11,35,85,8
Chile9,412,811,1
Colômbia 8,513,113,3
Cuba21,739,144,5
Equador2,63,72,9
México7,57,86,9
Panamá3,22,01,4
Paraguai10,18,16,4
Peru6,88,58,4
Uruguai9,48,37,3
Venezuela284,7234,1439,6
Fonte: Secretaria-Geral da ALADI com base em dados de organismos oficiais dos países-membros.

Exportações dos países-membros da ALADI

O Indicador oportuno das Exportações Totais de Bens – ALADI, que mede a evolução das vendas em dólares de bens de seus treze países membros para o mundo, aumentou 4,5% no primeiro trimestre de 2023, em relação ao mesmo trimestre de 2022.

No entanto, o indicador, medido em termos dessazonalizados —ou seja, sem considerar as oscilações em seu comportamento associadas a movimentos periódicos ou sazonais— mostrou um aumento de apenas 0,45% na quantidade de mercadorias exportadas pelos países membros da ALADI na comparação do primeiro trimestre de 2023 com o último trimestre de 2022.

Importações dos países-membros da ALADI

Por sua vez, o Indicador oportuno de Importações Totais de Bens – ALADI, que mostra a evolução das compras de bens dos países membros da ALADI para o mundo, aumentou 1,4% no período janeiro-março de 2022, em relação ao mesmo período de 2022.

Ao analisar o comportamento do indicador nos primeiros meses do ano e ao fazer a comparação eliminando os fatores sazonais, observa-se que as compras no exterior caíram 1% no trimestre janeiro-março de 2023, em relação ao trimestre outubro-dezembro 2022.

Comércio intrarregional

Finalmente, o Indicador oportuno do Comércio Intrarregional – ALADI aumentou 5,3% no período de outubro a dezembro de 2022, em relação ao mesmo trimestre de 2021. No total do ano de 2022, o comércio intrarregional aumentou 21,4%, também marcando um comportamento positivo, em linha com o apresentado pelas exportações e importações dos países membros com o mundo.

Da mesma forma, o valor médio comercializado pelos países membros da ALADI durante o quarto trimestre diminuiu 6,7% em relação ao valor médio comercializado no período julho-setembro de 2022, sem levar em conta fatores sazonais.

Em conclusão, todos os indicadores oportunos dos fluxos de comércio tiveram um desempenho muito bom em 2022. No entanto, o comportamento evidenciado nos dois últimos trimestres do ano mostra que esse desempenho não poderia ser mantido em 2023.


Dados de gráficas e tabelas

Gráfica 1. Taxa de crescimento do PIB: ALADI e principais parceiros comerciais (em %)
Gráfica 2. Índice de preços internacionais das matérias-primas
Gráfica 3. Inflação interanual (%)
Gráfica 4. Indicador oportuno de exportações totais – ALADI
Gráfica 5. Indicador oportuno de importações totais – ALADI
Gráfica 6. Indicador oportuno de comércio intrarregional – ALADI
Tabela 1. Taxa de variação real dos preços internacionais de matérias-primas selecionadas (em %)
Tabela 2. Variação das taxas de câmbio da moeda nacional em relação ao dólar (em %)
Tabela 3. Variação anual dos preços ao consumidor (em %)

Metodologia e outros documentos