Tendências do Comércio Internacional de Bens (outubro-dezembro 2022)

Último boletim publicado com informações a dezembro de 2022.



A Secretaria-Geral da ALADI elabora indicadores que preveem o comportamento do comércio intrarregional e das exportações e importações de seus países-membros de e para o resto do mundo, com o propósito de facilitar a tomada de decisões dos agentes econômicos.

Principais variáveis que repercutem no andamento do comércio internacional dos países-membros da ALADI

A produção de bens e serviços de um país —e de seus principais parceiros comerciais—, os preços internacionais dos produtos básicos e a evolução dos preços internos e das taxas de câmbio são algumas das variáveis que, no curto prazo, condicionam a oferta e a demanda de bens que os países-membros da ALADI comercializam entre si e com o resto do mundo. Por esse motivo, revisa-se o comportamento recente das variáveis ou fatores mencionados.

  • Atividade econômica nos países-membros da ALADI

O Fundo Monetário Internacional atualizou sua análise do andamento da economia mundial em abril de 2023. Segundo suas últimas estimativas, a economia mundial cresceu 3,4% em 2022, impulsionada pelo aumento no nível de atividades das “economias emergentes” (4,0%). Nas “economias avançadas”, a taxa de crescimento foi mais baixa (2,7%). O organismo continua prevendo que a economia mundial deve desacelerar seu crescimento em 2023 (de 4% para 2,8%), também como resultado do ritmo menor de crescimento das economias avançadas (1,3%) e, em particular, das que integram a Zona Euro (0,8%).

O FMI prevê ainda uma leve desaceleração no ritmo de crescimento no nível de atividade nas economias emergentes, que passará de 4% em 2022 para 3,9% em 2023. Neste tipo de economias, o crescimento irá experimentar mudanças de composição em relação a 2022, devido à previsão de maior crescimento da economia chinesa e da diminuição do crescimento da Índia e de outros mercados, incluídos os latino-americanos.

No caso dos países da ALADI, em 2022 a produção de bens e serviços finais foi 3,6% superior à registrada em 2021. Para o ano 2023, o FMI prevê que os países-membros da ALADI diminuam seu ritmo de crescimento de forma mais pronunciada que o resto das economias emergentes. Os aumentos nas taxas de juros internacionais e locais, a diminuição dos preços dos combustíveis, a desaceleração da demanda de alguns dos principais parceiros comerciais, os problemas de oferta associados a fatores climáticos e uma menor demanda interna ajudariam a explicar o ritmo mais baixo de crescimento.

Como ilustrado na tabela 1, o crescimento menor esperado não deveria afetar todos os países-membros da ALADI da mesma maneira.

Tabela 1. Taxa de crescimento do produto interno bruto dos países-membros da ALADI (em %)

País2020202120222023
Argentina-9,910,45,20,2
Bolívia8,76,13,21,8
Brasil-3,94,62,90,9
Chile-6,111,72,4-1,0
Colômbia-7,010,77,51,0
Cuba*-10,91,34,03,0
Equador-7,84,23,02,9
México-8,14,83,11,8
Panamá-17,915,310,05,0
Paraguai-0,84,20,24,5
Peru-11,013,62,72,4
Uruguai-6,14,44,92,0
Venezuela-30,00,58,05,0
ALADI-7,16,63,71,3

Fonte: Secretaria-Geral da ALADI com base em dados históricos de organismos oficiais dos países-membros, e de estimativas e projeções do Fundo Monetário Internacional, com exceção da República de Cuba.(*) Para o caso de Cuba, foram utilizados valores históricos correspondentes a ONEI e CEPAL. Os valores para os anos 2022 e 2023 correspondem a projeções realizadas pelo Ministério da Economia e Planejamento da República de Cuba.

A desaceleração prevista no ritmo de crescimento dos países da região e de alguns de seus principais parceiros comerciais é um dos fatores que impedirá que os fluxos de comércio dos países da região possam repetir, em 2023, o bom desempenho de 2022.

  • Evolução dos preços internacionais das matérias-primas

Em 2022, os preços internacionais das matérias-primas aumentaram 23,9% em termos reais, impulsionados pelo crescimento dos preços do petróleo (37,3%), do gás natural (91,7%) e dos fertilizantes (52%), em decorrência da intensificação da guerra da Ucrânia, especialmente na primeira metade do ano.

No último trimestre do ano 2022, os preços internacionais das matérias-primas caíram 3,9% em termos reais, se comparados com o mesmo trimestre de 2021. A queda de preços em termos reais foi praticamente generalizada, com exceção dos preços do petróleo e dos fertilizantes, que aumentaram 9,6% e 10,7%, respectivamente.

Tabela 2. Taxa de variação real dos preços internacionais de matérias-primas selecionadas (em %)

Média do ano 2022/
Média do ano 2021
Média Out.-dez/22-
Média Out.-dez.21
Total23,9-3,9
Alimentos y bebidas5,8-2,7
Produtos agrícolas4,9-4,0
Metais básicos-12,4-15,2
Metais preciosos -9,1 -10,1
Adubo58,310,7
Combustíveis52,0-1,1
–Petróleo37,39,6
–Gás natural91,7-13,9

.
Fonte: Secretaria-Geral da ALADI com base em dados do Fundo Monetário Internacional e do Bureau of Labour Statistics.

Para o ano 2023, o FMI prevê que o menor ritmo de crescimento e o aumento das taxas de juros internacionais consolidem a diminuição dos preços internacionais das matérias-primas. Essa redução acarreta dos efeitos contrapostos nos países da ALADI: por um lado, ela diminui o ingresso de divisas provenientes de exportações dos países produtores e exportadores de alimentos e combustíveis; pelo outro, mitiga a saída de divisas dos países que são fortes importadores deste tipo de bens.

  • Evolução das taxas de câmbio

Em 2022, a moeda chinesa, o euro e as moedas dos países da região ALADI se depreciaram 4,3%, 12,5% e 2,3% respectivamente, em relação ao dólar estadunidense.

Quanto aos países da ALADI, como mostra a tabela 3, o comportamento geral apresenta realidades muito diversas. Alguns países mostraram grande desvalorização de suas moedas em relação ao dólar, medidas em termos nominais (Venezuela, Argentina, Chile e Colômbia); outros valorizaram suas moedas (Uruguai, Brasil e México) e, por fim, houve países cujas moedas se mantiveram inalteradas (Bolívia) ou que, diretamente, não podem variar por serem economias dolarizadas (Equador e Panamá).

Tabela 3. Variação das taxas de câmbio da moeda nacional em relação ao dólar (em %)

País ou regiãoOut-dez./2022-
Jul.-set./2022
Out.-dez.-22/-
Out.-dez.-21
Promedio 2022/
Promedio 2021
Argentina19,761,337,2
Bolívia0,00,00,0
Brasil0,3-5,8-4,25
Chile-1,111,015,03
Colômbia9,823,813,59
Cuba0,00,00,40
México-2,8-5,1-0,76
Paraguai4,24,72,94
Peru0,2-3,2-1,14
Uruguai-2,1-9,0-5,42
Venezuela61,4141,7100,0
ALADI3,07,52,3
China3,911,34,43
Zona Euro-1,212,212,48
Fonte: Secretaria-Geral da ALADI com base em dados do Banco Central de Chile.
  • Comportamento dos preços ao consumidor

Em 2022, nos países onde a política monetária tinha metas inflacionárias, a inflação se manteve acima dessas metas e, na maioria dos casos, acima dos níveis prévios à pandemia. A diminuição da inflação será um caminho lento, apesar de que as autoridades da maioria dos países tenham implementado, durante 2022, medidas monetárias e fiscais restritivas e apesar de que, na última metade do ano, tenha diminuído a pressão imposta pelos preços internacionais das matérias-primas sobre os preços internos.

No caso dos países-membros da ALADI, como ilustrado na tabela 4, o comportamento da inflação medida pela variação dos preços ao consumidor foi muito heterogêneo. O FMI prevê uma desaceleração da inflação para a maioria dos países.

Tabela 4. Variação anual dos preços ao consumidor (em %)

País ou região Fim do período:
Dezembro de 2021
Fim do período
Dezembro de

2022
Fim do período:
Dezembro de
2023*
Média
2022
Média
2023
*
Argentina50,994,8 88,0 72,498,6
Bolivía0,93,1 3,6 1,74,0
Brasil10,15,85,49,35,0
Chile7,412,85,011,67,9
Colômbia5,613,18,410,210,9
Cuba*77,339,1 n/d n/dn/d
Equador1,93,7 2,3 3,52,5
México7,47,8 5,0 7,96,3
Panamá2,62,0 3,1 2,92,2
Paraguai6,88,14,19,85,2
Peru6,48,53,07,95,7
Uruguai8,08,37,09,17,6
Venezuela686,9155,8**250200,9400,0

Fonte: Secretaria-Geral da ALADI com base em dados de organismos oficiais dos países-membros.(*) Correspondem a estimativas realizadas pelo FMI no World Economic Outlook. Abril 2023.(**) Para o caso da Venezuela, o valor da inflação dos últimos doze meses finalizados em dezembro não está disponível; portanto, foi utilizado o último valor disponível: o valor dos últimos doze meses finalizados em outubro de 2022.

Exportações dos países-membros da ALADI

O Indicador oportuno de exportações totais de bens da ALADI, que mede a evolução das vendas em dólares de bens de seus treze países-membros para o mundo, aumentou 10,8% no quarto trimestre de 2022, em comparação com o mesmo período de 2021. O indicador incrementou-se 16% para o ano inteiro, registrando ótimo desempenho pelo segundo ano consecutivo.

Não obstante, o indicador, medido em termos sazonalizados —isto é, sem levar em conta as oscilações no comportamento do indicador associadas a movimentos periódicos ou sazonais— registrou queda de 1,4% no montante exportado de bens pelos países-membros da ALADI para o mundo, no comparativo do quarto trimestre de 2022 com o terceiro trimestre do mesmo ano.

Importações dos países-membros da ALADI

Por sua vez, o Indicador oportuno de importações totais de bens da ALADI, que mostra a evolução das compras de bens que realizam os países-membros da ALADI do resto do mundo, aumentou 4,8% no quarto trimestre de 2022, se comparado ao mesmo período de 2021. Portanto, este indicador registrou alta de 20,7% em 2022, em relação a 2021.

Ao analisar o comportamento do indicador nos últimos meses do ano, e ao fazer o comparativo eliminado os fatores sazonais, observa-se que as compras do exterior caíram 6,7% no trimestre outubro-dezembro de 2022, em relação ao trimestre julho-setembro do mesmo ano. Tal como aconteceu com o indicador oportuno de exportações de bens, o indicador de importações também diminuiu no último trimestre de 2022. Isto indica que o crescimento do comércio de bens dos países da região com o mundo não poderia continuar com o mesmo ritmo de crescimento registrado em 2022.

Comércio intrarregional

Por fim, o Indicador oportuno de comércio intrarregional da ALADI aumentou 5,3% no período outubro-dezembro de 2022, em comparação com o mesmo trimestre de 2021. No total do ano 2022, o comércio intrarregional aumentou 21,4%, demonstrando comportamento muito positivo, em sintonia com o apresentado pelas exportações e importações dos países-membros com o mundo.

Ademais, o valor comercializado pelos países-membros da ALADI durante o quarto trimestre diminuiu 6,7%, em relação ao valor comercializado no período julho-setembro de 2022, sem considerar fatores sazonalizados.

Em conclusão, todos os indicadores oportunos de fluxos de comércio tiveram ótimo desempenho em 2022. Porém, o comportamento evidenciado nos dois últimos trimestres do ano demostra que tal desempenho não poderia se manter em 2023.


Dados de gráficas e tabelas

Gráfica 1. Taxa de crescimento do PIB: ALADI e principais parceiros comerciais (em %)
Gráfica 2. Índice de preços internacionais das matérias-primas (Expressos em termos reais. Base 2017= 100, médias trimestrais)
Gráfica 3. Inflação interanual (em %)
Gráfica 4. Indicador oportuno de exportações totais – ALADI
Gráfica 5. Indicador oportuno de importações totais – ALADI
Gráfica 6. Indicador oportuno de comércio intrarregional – ALADI
Tabela 1. Taxa de crescimento do produto interno bruto dos países-membros da ALADI (em %)
Tabela 2. Taxa de variação real dos preços internacionais de matérias-primas selecionadas (em %)
Tabela 3. Variação das taxas de câmbio da moeda nacional em relação ao dólar (em em%)
Tabela 4. Variação anual dos preços ao consumidor (em %)

Metodologia e outros documentos